terça-feira, 15 de agosto de 2017

O MESTIÇO SOB A ÓTICA DE GILBERTO FREYRE

Autor da obra “Casa-Grande e Senzala”, publicada em 1933, Gilberto Freyre foi um dos maiores intelectuais deste país. Neste clássico da sociologia, o autor faz uma leitura do homem brasileiro pouco explorada até aquele momento. Freyre faz um grande elogio à miscigenação, considerada por ele como uma das identidades do Brasil. Desta forma, reconhece a importância, não só do português, mas também do indígena e do negro no desenvolvimento cultural e racial do Brasil.

Em "Casa Grande e Senzala" nota-se que, para entender o processo de formação do povo brasileiro, é necessário entender as relações entre as etnias, isto é, a mestiçagem. Contra o discurso em voga naquela época, Freyre rejeita as afirmações que se baseiam na superioridade de uma raça sobre a outra. Também questiona a suposta fragilidade biológica e cultural resultante da miscigenação entre
brancos, indígenas e negros. O autor percebe que existe, na verdade, uma união estável entre estas três etnias, cujo resultado é o mestiço. Segundo Freyre, a mestiçagem não é uma criação americana, mas sim ibérica. Logo no início do primeiro capítulo, Freyre mostra que, o contato anterior dos portugueses com os mouros, gerou nesses colonizadores características particulares: os fizera mais adaptáveis em situações de interação com outros povos.

Essa miscigenação não foi apenas biológica, mas também cultural. Não foi somente a flexibilidade do português que favoreceu a interação entre as três etnias. Freyre também ressalta a relevância do negro e do indígena nesse processo. Aspectos como a linguagem, traços psicológicos (alegria, bondade, entre outros), alimentação e costumes dos negros foram absorvidos pelo branco europeu, que reconheceu a adaptabilidade dos africanos à situação tropical. Em relação ao indígena, o autor diz que este foi aproveitado no desbravamento de terras e propriedades, porém, dá maior destaque e importância à mulher, tanto na idealização para o amor, quanto no projeto de difusão econômica agrária. Para ele, todos esses elementos se incorporam em uma harmônica construção social.

Resumidamente, de acordo com Gilberto Freyre, a mestiçagem estabeleceu um aspecto democratizador nas relações étnicas no Brasil, corrigindo as distâncias sociais. Na época da publicação do livro, tal visão foi considerada inovadora, verdadeiramente revolucionária. Casa Grande e Senzala, além de dar ênfase a questões muito pleiteadas no país, ajudou-o a desprender-se de visões pessimistas e a inserir o negro no papel de sujeito formador do brasileiro, juntamente com o
português e o indígena. Portanto, a obra possui uma ampla importância historiográfica, ao passo que reinventou a maneira de compreender a sociedade colonial, possibilitou reflexões sobre diversas de suas construções e ofereceu um novo significado do mestiço para o brasileiro.

Gabrielle Antoniassi e Kamila Alves são discentes do Bacharelado de Ciências e Humanidades da UFABC.

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