Gilberto Freire foi um dos
autores mais importantes para a histografia nacional. Em sua obra Casa Grande
e Senzala, aborda aspectos da sociedade patriarcal escravocrata brasileira,
dentre eles, um dos mais relevantes foi o papel da mulher nessa época.
Na obra referida, o autor dá
destaque às relações de submissão exercidas pelo senhor de engenho e à opressão
no convívio dos indivíduos, especialmente sobre as mulheres. Essas relações de
posse e poder senhoril eram naturalizadas e se davam tanto para as mulheres
negras quanto para as mulheres brancas, somente de formas diferentes.
As mulheres brancas, filhas dos
senhores de engenho, eram submetidas a esse sistema patriarcal desde a
infância. Usadas como objetos de troca através do matrimônio, eram preparadas
desde crianças para serem boas esposas. Sua inserção na vida adulta se dava de
forma precoce, sendo consideradas sinhás-moças aos doze, treze anos. Como eram
mães muito cedo, muitas morriam no parto e as que sobreviviam e tinham vários
filhos envelheciam depressa, atingindo a maturidade completa aos dezoito anos.
Passavam a infância sob a tirania dos pais e, ao se casarem, a dos maridos. A
frustração gerada no processo era descontada nas escravas, que sofriam
crueldades como: terem os olhos arrancados, partes do corpo queimadas e unhas
arrancadas.
Já as mulheres negras, tiveram
como um dos papeis mais importantes o de ama de leite. Havia a crença de que se
adaptavam melhor ao clima tropical e eram mais fortes e resistentes. Como as
mães eram prematuras e fracas, as negras eram designadas à alimentar e cuidar
de seus filhos. Sua seleção como ama representava uma ascensão em sua condição
de escrava, sendo assim uma forma de sobrevivência. Outros papeis desempenhados
eram o de reprodutora para a reposição de escravos e o de objeto de iniciação
sexual para os moços brancos. Freyre ainda fala sobre a gentileza das mães
negras com as crianças da casa grande, que os mimavam e contavam histórias.
Exercendo o papel de educadoras, foram responsáveis por moldarem a língua
distanciada do português de Portugal.
Assim, ao expor as diversas
formas com as quais a figura do senhor de engenho empunha sua autoridade sobre
a mulher, tanto àquela considerada de sua classe quanto à negra, vitimada tanto
pela escravidão física quanto sexual, Gilberto Freyre apresenta uma mulher que,
apesar do posto fundamental na construção do modelo de família brasileira,
nunca foi protagonista, mas vista como um adorno chamado de mãe, esposa, filha,
mucama, ama de leite.
Juliana de Almeida e Kelly Costa são estudantes do Bacharelado de Ciências e Humanidades da UFABC.
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