quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A moça e a mucama

Gilberto Freire foi um dos autores mais importantes para a histografia nacional. Em sua obra Casa Grande e Senzala, aborda aspectos da sociedade patriarcal escravocrata brasileira, dentre eles, um dos mais relevantes foi o papel da mulher nessa época.
Na obra referida, o autor dá destaque às relações de submissão exercidas pelo senhor de engenho e à opressão no convívio dos indivíduos, especialmente sobre as mulheres. Essas relações de posse e poder senhoril eram naturalizadas e se davam tanto para as mulheres negras quanto para as mulheres brancas, somente de formas diferentes.

As mulheres brancas, filhas dos senhores de engenho, eram submetidas a esse sistema patriarcal desde a infância. Usadas como objetos de troca através do matrimônio, eram preparadas desde crianças para serem boas esposas. Sua inserção na vida adulta se dava de forma precoce, sendo consideradas sinhás-moças aos doze, treze anos. Como eram mães muito cedo, muitas morriam no parto e as que sobreviviam e tinham vários filhos envelheciam depressa, atingindo a maturidade completa aos dezoito anos. Passavam a infância sob a tirania dos pais e, ao se casarem, a dos maridos. A frustração gerada no processo era descontada nas escravas, que sofriam crueldades como: terem os olhos arrancados, partes do corpo queimadas e unhas arrancadas.
Já as mulheres negras, tiveram como um dos papeis mais importantes o de ama de leite. Havia a crença de que se adaptavam melhor ao clima tropical e eram mais fortes e resistentes. Como as mães eram prematuras e fracas, as negras eram designadas à alimentar e cuidar de seus filhos. Sua seleção como ama representava uma ascensão em sua condição de escrava, sendo assim uma forma de sobrevivência. Outros papeis desempenhados eram o de reprodutora para a reposição de escravos e o de objeto de iniciação sexual para os moços brancos. Freyre ainda fala sobre a gentileza das mães negras com as crianças da casa grande, que os mimavam e contavam histórias. Exercendo o papel de educadoras, foram responsáveis por moldarem a língua distanciada do português de Portugal.

Assim, ao expor as diversas formas com as quais a figura do senhor de engenho empunha sua autoridade sobre a mulher, tanto àquela considerada de sua classe quanto à negra, vitimada tanto pela escravidão física quanto sexual, Gilberto Freyre apresenta uma mulher que, apesar do posto fundamental na construção do modelo de família brasileira, nunca foi protagonista, mas vista como um adorno chamado de mãe, esposa, filha, mucama, ama de leite.

Juliana de Almeida e Kelly Costa são estudantes do Bacharelado de Ciências e Humanidades da UFABC.

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